sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Máquina de escrever - 47


Já tentei crescer mas eu parei, já tentei sonhar mas acordei, já tentei amar mas já cansei, já tentei sorrir mas já chorei. Já tentei correr mas eu cansei, tentei ser chuva mas sequei. Tentei ser vento mas parei, tentei ser sol mas me queimei. Tentei ser triste mas sorri, tentei ser educado mas falhei, tentei ser seco mas me molharam, tentei ser algo mas evaporei.

Máquina de escrever - 46


O motivo disso tudo é que eu gosto de falar com você. Eu gosto de pensar em você, e sonhar com você. Gosto de querer você, e tentar ter. Não importa aquela voz baixinha lá no fundo, chamada consciência, dizendo que vai dar errado, que não vai dar em nada, que vai ser a mesma portada na cara de sempre. É que você me faz rir, me faz sonhar... Me dá friozinhos na barriga, me faz pegar no sono e até acordar de madrugada pensando em você. Aí bate aquela vontade de sair no meio da noite e pegar um táxi pra sua casa, ou pra qualquer lugar que você esteja. Bate aquela vontade de estar com você na hora. Toda hora. Todo dia. 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Máquina de escrever - 45

3 anos. 12 meses x 3. 12.12.12. 12/12/12. Olhando nossas fotos... Eu vejo o quanto mudamos, o quanto ainda somos os mesmos... O quanto crescemos, mas continuamos proporcionais... A sua mão ainda cabe na minha, mas eu tive dificuldade para encaixá-la. Não soube se porque tanto tempo depois, eu me confundi, ou se é porque eu estava tremendo e não estava acreditando naquela colisão de peles. A verdade é que eu não pensei que estaria tão perto de você de novo. Não na vida real. E foi melhor do que nos sonhos, nos planos, nos contos... Foi melhor que nos filmes e livros. Eu ainda sinto o seu perfume e quando eu fecho os olhos, posso ver seu rosto se aproximando no meu... Seus lábios, sua bochecha... Seu olhar sem graça e desconcertado, seu corpo sem saber o que fazer. Meus olhos sem saber pra onde olhar, e meu coração sem saber por onde saía pra voltar pra você. Acho que ele nunca bateu tão forte, tão rápido, tão devagar, tão caloroso. Ou melhor, não nos últimos 3 anos. Algumas coisas nunca mudam, eu te disse isso. E não mudam mesmo. Outras, ficam melhores. É uma pena que o relógio existe, e ele foi cruel comigo. Eu queria que durasse pra sempre, eu queria não te deixar ir. Eu queria continuar abraçado no teu braço e continuar segurando um de seus dedos com todos os meus cinco, como um bebê que só precisa da proteção de alguém que o ame. Uma hora foi pouco, um beijo foi pouco. Os apertos de mão foram poucos. Mas foram necessários. Me provaram que eu ainda estou vivo, e me provaram que ainda existem sensações boas nesse mundo. Me provaram que ainda existe amor em algum lugar. Em mim. Em nós. Você pode estar longe, mas continua dentro de mim. E daqui, nada te arranca. Eu te amo. Pra sempre. Sem fim.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Máquina de escrever - 44


Primeiro, as nuvens começaram a pingar. Como quem chora baixo, quieto... Como quem tenta segurar um mundo nas costas. Depois, o vento começou a soprar, primeiro vindo fraco, de longe, como quem não vai a lugar algum. Depois, veio forte, imponente, levantando tudo que estava em seu caminho e querendo levar longe quem se impunha em seu caminho. Depois, as nuvens não conseguiram mais se conter e desabaram em lágrimas, ou melhor, chuva. Uma chuva torrencial que caía, unida aquele vento que tentava me mandar pra longe, mas eu resisti, o máximo que pude, parado naquele vendaval que tentava me levar pra algum lugar. Eu fiquei parado ali no meio, pois sabia que se eu pudesse enfrentar aquilo, os meus sentimentos podiam ser lavados com aquela água e os ruins, levados com aquele vento.

O travesseiro.


Era ofegante, era quente. Era bonito, sutil e feroz. A luz da vela batia no rosto dele e o brilho que se formava naqueles olhos clareavam mais o quarto do que qualquer vela. Do que qualquer incêndio. Era bom demais pra mim. Eu precisava saber se era realidade. Algo daquilo.
Repousei meu rosto sobre o peito dele, que ainda tremia um pouco. Virei levemente meu rosto a ponto de que meus lábios pudessem tocá-lo na pele, como um beijo. Coloquei minhas mãos em seu entorno como se eu pudesse abraçá-lo. Deixei então com que minha mão seguisse para baixo, passando por seus ombros e braço... Pude finalmente senti-lo os dedos, e minha mão se uniu a dele como num encaixe perfeito de um quebra-cabeça. Ficamos assim por alguns instantes... Eu o acariciava a mão e ele passeava com os dedos entre meus cabelos. O som do piano ao fundo eclodia com o ritmo descompassado dos nossos corações, e a paz daquele momento se expandia e ia de encontro a imensidão do céu com suas estrelas, talvez quase tão brilhante quanto os meus olhos sonhadores. Talvez meus sonhos combinassem com os acordes pré gravados daquele piano.
 - Pra sempre?
 - O quê?
 - Duraria?
 - O quê?
 - O tudo?
 - O que é o tudo?
Alguns minutos de silêncio foram tudo o que ambos tivemos como resposta.
 - Nós dois.
 - Nós somos tudo?
 - De certa forma...
 - De que forma?
 - Da minha forma.
 - Qual é a sua forma?
 - A sua forma.
 - Não entendo.
 - Você prefere não entender.
Mais silêncio.
 - Você é o meu tudo. Você sou eu, completo. Você é meus sonhos, meus medos, minhas fantasias. Meu desejo, minha brisa. Meu cais no porto, minha esperança. Meu desatino. Meu despertador e meu atraso. Você é meu piano. – Eu dizia calmamente ao passar meus dedos nos dedos dele. - Você é o meu cantar, meu dormir e o meu repousar. Você é o meu colo, meu acalento. Você é tudo de mim que eu nasci sem. Que eu sonhei em encontrar.
 - E conseguiu? – Ele disse com os olhos curiosos e ao mesmo tempo, calmos.
 - Me responda você.
 - Como?
 - Você ficaria?
 - Você quer?
 - Você quer?
 - Você já perguntou a sua mão se ela ficaria com você?
 - Não... - Respondi confuso –
 - Porque?
 - Que tipo de pergunta é essa? Que tipo de pessoa pergunta a própria mão se ela ficaria ali pra sempre?
 - Você.
 - Eu não. Não tenho o costume de falar com mãos... – Respondi em tom de ironia -
 - Mas tem o costume de perguntar a você mesmo se eu ficaria.
 - Não estou entendendo.
 - Suas palavras. Eu sou você, e tudo o que te completa. Tudo o que ama, tudo o que te deixa no prumo e tudo o que te tira do eixo. Sou o que te acorda, o que te deixa acordado, o que te acalenta, o que te faz dormir. O que te ampara, o que te segue, o que te segura e o que te levanta. Sou o que você sempre procurou e encontrou. Como eu poderia partir e arrancar de você tudo o que sou em você? Não serei um ladrão de sorrisos.
 - E o que você será? – perguntei leve, com uma paz de espírito enorme ao ponto de me levar ao sono. –
 - Nada além do que já sou. E do que posso ser. E do que quiser que sejamos. E tudo o que precisar que eu seja. Eu continuarei sendo o tudo que te completa.
 - Você promete?
 - Parece bom pra você?
 - Me parece perfeito.
 - Perfeito como?
 - Como isso.
 - Como isso o que?
 - Como esse sonho. Como você. Tenho um último desejo.
 - Qual?
 - Quando a manhã vier... Não me deixe jamais... Acordar.
 - Eu prometo. Agora me beije antes que o despertador toque.