domingo, 30 de junho de 2013

Máquina de Escrever - 65

Você sempre foi a pessoa com a qual eu me sentia firme. Por mais que nossa estrutura balançasse, sacudisse, trepidasse... Você continuava lá e eu continuava ali. Eu ia, voltava, você entortava, estremecia... Mas você continuava sendo meu porto seguro. Você me ensinou que no meio de tanta guerra, há também paz, e que por mais escuro, ao menos meu olho brilha. Você me ensinou muito, me guiou muito, caminhamos juntos. Eu não sei em que parte do caminho nós nos despimos do carinho, da compreensão e do respeito... Só sei que é melhor eu me cuidar para nunca mais passar por esse lugar. Porque depois de perder tudo, eu perdi também o que eu não esperava. A ponte ruiu, você se foi com a correnteza, e eu não consegui salvar nenhum de nós.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Máquina de Escrever - 64

Eu estou com raiva de mim. Por sua causa. Eu não gosto mais dos seus abraços. Você se lembra do quanto era bom quando você me abraçava? Eu só ficava ali, quieto, sentindo você, seu cheiro. E olha só agora... Eu te abracei bem rapidinho, porque era perigoso eu querer não largar mais... E agora eu não consigo dormir porque o seu cheiro está em mim. Logo, eu não consigo te esquecer também. E me dá raiva. Mesmo. Eu fico repassando todos os diálogos na minha mente, cada olhar que eu te dei, cada toque que você me deu. E deu nos outros. Pela primeira vez eu quis correr pra longe de você. Enquanto tudo o que eu sempre quis foi correr pra perto. Mas você não queria deixar, não é? O lugar estava quente e eu suando frio, querendo me esconder. Sem apetite, sem sede, sem vontade de nada. Quando eu consigo ir logo pra saída, quase desabando dentro de mim mesmo, você me alcança e puxa um assunto qualquer. Depois de tudo, você insiste em querer colocar seus olhos nos meus, por mais que eu queira correr... E quando você me pergunta: "Mas e a sua vida? Como você tá? Você tá feliz?"... Não, não estou. É óbvio que eu não estou, não consegue ver? Mas tudo que eu respondo é um "ah, é claro" com a cara mais convincente? Ok, talvez não, pois não te convenceu muito. Ainda assim, o que você fez? Nada. Me pediu pra ficar mas depois me deixou sair. Me virou as costas como se faz a uma sombra. Estou bem? Estou feliz? Não. Mas vou fingir estar até que eu convença a todos e a mim mesmo.

Conto - A Hora De Dar Tchau.

 - Porque você foi embora?
- Eu não sei. 
- Como pode não saber?
- Não sabendo. Achei que seria o melhor.
- Porquê?
- Não sei.
- Droga. E porquê você veio, então?
- Porque eu precisava.
- Já teve o bastante?
- Acho que sim.
Houve um silêncio ensurdecedor. Daqueles que só quem cala ou escuta sente. Eu projetei o olhar pra minha sombra, esticada no chão... Ela parecia escura e fria. Só não menos que o momento.
- E eu?
- Você o quê?
- Não que seja problema seu... Mas já que me trouxe até aqui... Bom, como eu faço pra voltar?
- Eu não sei.
- Você não sabe porque veio, não sabe porque está indo embora, não sabe o porque não fica e não sabe como me levar de volta? Porque você me trouxe aqui afinal?
- Droga, eu não sei!
- Isso é um jogo, não é? Eu não sei se é, mas não quero mais brincar. Eu não sou você. Eu não sou um jogador! Eu não vou entregar o meu coração a prêmio... Nem mesmo pra você. Eu estou voltando.
Ele pareceu confuso. E eu me encontrei perdido. Eu não conhecia mais aquele olhar, eu não me sentia mais seguro naquela presença. E quando antes naqueles braços eu queria estar, eu agora não me sentia mais seguro. Eu me senti zonzo, confuso... Respirei fundo e continuei a deixar o que fosse que estivesse dentro do meu peito sair, sem me importar.
- E não, eu não sei o caminho. Mas eu o encontro. Eu te encontrei. E olhe só onde viemos parar... No nada. Você se imaginou aqui? Eu não. E não é onde eu quero estar. Estar na sua presença não me causa mais bem algum... E você por si só já me causou mal demais.
Foi então que ele me olhou, nos olhos. E eu mais uma vez tive um pequeno arrepio, daqueles que sempre me atingiam quando ele me olhava. É difícil quando o amor te olha assim... E quando você tem medo de que ele arranque todos os seus segredos com um só olhar... Mais nesse momento eu não tive medo. Eu não queria esconder mais nada. Ele olhou pra baixo, para as minhas mãos... A tocou com as dele e levantou a certa altura. Me olhou novamente, com aqueles olhos de refletir constelações e ameaçou dizer algo que eu não me permiti ouvir. Se ele havia se calado a tanto tempo, não havia de ser nada importante agora, a esse ponto. E eu não ia mais ficar confuso. Eu o olhei firme, olhei bem firme para o meu amor e mal pude acreditar no que eu dizia:
- Sabe... Uma hora a gente percebe que não há mais o que fazer... Que não há mais o que dizer, que não há mais o que tentar. E por mais que eu sempre pense que eu deveria ter feito isso ou aquilo pra tentar te manter, eu não vou mais me torturar com isso. Porque eu sei que na verdade, não há mesmo nada que eu possa falar ou fazer, você deveria querer por tudo o que já houve. Eu só queria que você me pedisse pra ficar. Mas você não vai. E você não vem. Mas eu me vou. Se você não me queria aqui, quem não quer mais ficar sou eu. E eu vou embora... Adeus.

Máquina de Escrever - 63

Se você soubesse o quanto o meu coração dói a cada passo que eu dou pra longe de você, talvez as coisas não seriam assim, tão difíceis. Na verdade, elas só são difíceis pra mim, você já se afastou a muito tempo. Se calou, se mudou, sem dor, sem o menor pesar. Porquê, ah, porquê em mim dói tanto? Saber o que deve ser feito mas ser impedido por lembranças e pela esperança de que você se lembre de tudo, de algo, do caminho e volte...

Máquina de Escrever - 62

O pior é quando você lembra daquela música... Você quer nunca mais ouví-la, nunca mais lembrá-la, mas é que ela vai continuar tocando e você vai continuar escutando e cantando sozinho e lembrando sozinho e sofrendo sozinho e cantando de novo sozinho e sendo sozinho enquanto o radinho toca e você pensa... Pensa, pensa, e cansa. Cansa mas não para de doer