sábado, 28 de setembro de 2013

Letter for u.

Então...

 Estou escrevendo isso de partir. E por “partir”, entenda que são muitos significados. Estou escrevendo antes de eu sair por aquela porta. Antes de você me partir ao meio, partir meu coração, partir minha vida em um “Antes de Você” e “Depois de Você”. Estou te escrevendo em um ano muito a frente... Eu sei vagamente como está a sua vida agora, anos depois. E sei muito bem como está a minha vida agora, anos depois.

 Talvez foi uma intervenção divina, sei lá, eu realmente não sei como, mas acho que recebi uma segunda chance. Eu consegui voltar no tempo e é de onde eu te escrevo agora. Eu consigo praticamente contar as horas até você me destruir de vez. Ou melhor, não mais. É fevereiro, hoje é domingo. Estamos na casa da minha melhor amiga e você está adormecido como um bebê, com sua regata branca e um rosto sereno, tão sereno...

 Eu queria te levar comigo, mas entenda, eu queria levar você. Não a dor.

 Como estou intervindo agora, você talvez pense em “como teria sido”, ou “porque aquilo (isso) aconteceu”. Acredite em mim, é melhor você pensar só isso do que pensar tudo que eu penso sobre tudo o que, de fato, aconteceu. Por mais que você pense essas coisas, teria sido ruim. Se não tenho como ficar com você – que era o que eu planejava –, só me resta juntar as minhas coisas e embarcar naquele táxi que está a caminho enquanto lhe escrevo. É todo o tempo que ainda temos, próximos.

 Você vai se lembrar em algumas horas, quando acordar, mas prefiro contar tudo no meu ponto de vista. A maioria dos eventos que culminarão no evento trágico que aconteceria amanhã a noite já aconteceram. Eu não tive chance de mudá-los. Eu já viajei pro interior, você também, mas para outro interior. Eu já estourei a minha conta telefônica ligando pra você e brigando, e você já foi pro motel me trair por causa daquela nossa discussãozinha. Sinceramente? Achei que fosse necessário mais. Mais que um simples “tchau” para você responder um adeus.

 Mesmo sabendo disso tudo, nós chegamos até aqui. Nós esperamos que todos apagassem as luzes, fingimos estar dormindo por um tempinho, depois nós fomos pra mesma cama e fizemos tudo o que você sabe. Até agora, não me arrependi. Acho que seria pior se eu não o fizesse. Eu sei o quanto eu vou querer ter tido noites como essa no futuro, mas não as terei de qualquer forma – partindo agora ou não.

 O cheiro da sua pele vai demorar dias para sair da minha. Quero dizer, nada em você vai sair de mim por anos... Mas nesse momento, você é como uma cinza que parece um pó de borracha: por mais que eu tente te pegar por inteiro, você se desfaz na minha mão e deixa só um borrão preto de algo que já queimou, já foi fogo, mas morreu.

 Eu sei que eu deveria te “reconfortar” ou algo, mas não vou. Você não vai precisar disso... Você vai ficar confuso por algumas horas, depois de alguns dias já vai estar com quem está hoje – anos depois –, o que você faria comigo deixando essa carta ou não. Dessa forma, só estou escrevendo para dizer que eu não vou estar presente nas ultimas horas: Eu não vou ser acordada por você daqui a pouco, não vou vê-lo se despir e se vestir de novo na minha frente, não vamos tomar café da manhã juntos e não trocaremos olhares cúmplices quando minha melhor amiga aparecer, como se combinássemos em esconder o que fizemos algumas horas atrás. Sequer você vai de carro comigo até a escola: vou pra lá sozinha. Mesmo que você apareça por lá, eu te garanto que não vai me ver. Você também não vai mais me ver no show terça feira: eu sei que íamos juntos, mas o que você não sabe é que já fomos separados. Você não sabe o quando doeu escutar cada uma daquelas músicas sozinha, enquanto você estava sob o mesmo teto que eu e eu nem mesmo pude tocá-lo.

 Nada disso vai mudar, o que vai ser diferente é que eu vou sair por aquela porta, deixarei essa carta onde eu deveria estar quando você acordasse, e eu vou sair primeiro da sua vida, antes que você saia da minha. Vou evitar algumas dores no futuro. Vou ter tido a chance de te dizer coisas que na verdade, eu não pude antes. Sei que deve estar confuso, e está tudo bem por mim... Me desculpe não amanhecer ao teu lado.

 Já te desculpei por coisas piores.

Apesar dos pesares, eu te amo. No passado, no futuro, no presente.


Com carinho,


                                                                                                                              Adeus.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Máquina de Escrever - 71

- O problema é que você não consegue ver o quanto você é especial pra mim. E o pior de tudo: eu não consigo ver o quando eu sou especial pra você.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Máquina de Escrever - 70

Ele abaixou minhas mãos com calma — o choque das mãos dele nas minhas eletrificando meu corpo —, me olhou fundo nos olhos e falou como quem fala a uma criança: "Olha... Nós dois sabemos que... Nosso amor é como uma brasa. Ele fica dentro de nós, pequeno, mas ainda arde, e só é necessário uma brisa, um ventinho, para que essa brasa se acenda em um incêndio". — Ainda me pergunto porquê diabos não podemos deixá-la arder, então.

Máquina de Escrever - 69

Guardo comigo o gosto daquele beijo, escondido... Guardo os seus sorrisos, as fotos, a sua carta... Guardo suas palavras, sua voz, seus olhares, nosso encontro. Guardo tudo o que vivemos em tão pouco, guardo tão pouco do tudo. Guardo tudo mas não guardo você, que era o meu bem mais precioso. E olha, guardo tudo isso mas não é porque eu quero: eu não consigo me desfazer de nada. Pena que você se desfez, virou pó, virou cinza, assombração. Virou só lembrança, virou dor no peito.

Máquina de Escrever - 68

Eu deveria ter aproveitado a fase, aquela época em que você era pra mim. Eu deveria ter sido para você. Mas foi difícil ver. Eu te enchia de defeitos, enquanto você foi uma das poucas pessoas quem me amou, com todos os meus. O tempo passa e as coisas mudam, mas não podemos voltar no tempo pra mudar as coisas. Acho apenas que... Sinto a sua falta.

Máquina de Escrever - 67

Não gosto de gente que brinca de amor. Usa as pessoas como se fossem os pinos de um jogo de tabuleiro. Avançam os números de casa e fazem o que querem, pra depois cansar e guardar tudo em uma caixa velha e empoeirada.

Máquina de Escrever - 66

"...E eu senti coisas ruins... Subitamente senti dores no estômago, junto com um desânimo total... Dentro do meu peito estava tudo dolorido... Eu nunca imaginei que a “dor do amor” fosse verdadeira. Mas agora eu tinha certeza, e da pior forma: eu a tinha dentro de mim."

Trecho do novo livro, ainda sem título.