Eu realmente pensei que eu não tinha nada a perder quando eu
comecei a falar com você, sabe. Acreditei realmente naquela coisa do “tanto
faz”. “Dessa vez não vou me apegar tanto, não vou sofrer. Se ele não quiser,
quem se importa? Também não quero”. O olhar torto da minha melhor amiga
condenou. “Coitado, ele que pensa”. E realmente, eu pensei.
Talvez ela me
conhecesse melhor que eu, ou talvez eu já estivesse cego demais: cada vez que eu
pensava em algo meu cérebro se embaçava e a única coisa que eu via com clareza
era você. E daí, comecei a te focalizar ainda mais. Te dar mais atenção nos
meus próprios pensamentos. Comecei a me importar mais, a me apegar demais. E
comecei a ficar com raiva de mim, comecei a me sentir um babaca por tentar
reparar em cada frame de memória que eu tinha de momentos que envolviam nós
dois.
Você colocou a mão do
cabelo desse jeito, você olhou pra mim daquele outro jeito. Você riu daquela
forma que queria dizer que estava feliz. Claro que depois, você começou a ficar
indiferente, seu sorriso começou a dizer tanto faz. Mas quando eu pensava em ir
embora, você baixava os óculos escuros e me olhava como quem pede: fica. E eu
não tinha muitos motivos para ir embora, mas seu olhar era suficiente para me
fazer ficar. Seu pequeno toque era quase demais.
Mas agora é sério:
olha pra mim. O que é que você sempre viu? Sei lá, desde o princípio. Deve ter
tido alguma coisa, né?! Você me pediu pra ficar, lembra? Você sorriu daquele
jeito que me desmonta. Você não pode ter esquecido tudo, pode? Por que se
esqueceu, me ensina como. E se ainda lembra, porque não volta? Por aqui tá tudo
tão igual... Tão monótono, e solitário. Você alegra a casa, abre as cortinas,
me ajuda com a louça, me divide pizza. Seu sapato ainda tá debaixo da cama, seu
moletom tá no armário... Não dá pra usar com esse calor. Só cabe bem em você.
Se der pra fazer um
favor, vai ser fácil, é um só. Volta?